Maid – aborda todas as faces da violência

O que é de fato configura um relacionamento como abusivo? No post anterior (clique aqui para ler) contei um pouco sobre todos os tipos de violência, e pudemos ver outras faces da violência, e que estas vão muito além de hematomas e dor.

Humilhações, machismo e pobreza são algumas palavras além de relacionamento abusivo, que são usados para traduzir as cenas de Maid, a minissérie da Netlix que aborda todas as faces da violência, e já começa mostrando a dificuldade que muitas mulheres (e homens também) têm de reconhecer as diversas faces da violência.

Alex (Margaret Qualley), foge de casa com a filha de 2 anos com medo e sem ter para onde ir. Seu relacionamento com o namorado Sean (Nick Robinson), pai da criança está se tornando a cada dia mais agressivo, devido o abuso do álcool e uso de drogas, ainda assim, Alex é categórica: ela não sofre violência, por isso, não pode denunciar o namorado – o que possibilitaria que se candidatasse a certos programas de apoio do governo. Afinal, segundo crê Alex, ela não apanhou – o namorado “apenas” bebeu, foi grosso e quebrou um copo na parede.

E é nesse cenário que a trama se desenvolve, mostrando as dificuldades de Alex na hora de ser acolhida pelo Estado e pelo Tribunal na hora de provar que foi uma vítima, mesmo sem ter “apanhado”.

Reprodução/Netflix

Maid é um tratado complexo sobre as dinâmicas dos relacionamentos abusivos, sobre a capacidade de resiliência que vive em nós. Maid é a força de um tsunami, que marca nossos corações por observar tamanha humildade e desejo de ser feliz e ver sua filha feliz. Um retrato de tantas mães espalhadas por aí.

Também estão na série: Anika Noni Rose como Regina, Andie MacDowell como Paula, Tracy Vilar como Yolanda, Billy Burke como Hank, e Xavi de Guzman como Ethan.

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Todo o tipo de violência

Entendam: Violência não se limita a utilização de força física!

Os atos de violência podem utilizar um ou mais tipos de violência e podem acontecer tanto em espaços públicos como privados. E engloba qualquer conduta – ação ou omissão – de discriminação, agressão ou coerção que lhe cause dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psicológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial. Conheçam os tipos:

Física: Conduta que ofende a integridade ou saúde corporal.

Sexual: Conduta que constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.

Além disso, é importante lembrar que o não é não, beleza? Tava legal mandou parar e continuou? É violência sexual.

Patrimonial: É a conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades.

Moral: Conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Mas a mais comum, e que muitas vezes acontece sem percerbermos, inclusive também é bem comum que surdos ou pessoas sofram, é a tal da Violência Psicológica: Que é o tipo de conduta que causa dano emocional e diminuição da autoestima ou que prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento , vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.

Reprodução

Violência Sexual – Denuncie!

Em 2012, a apresentadora Xuxa Meneghel revelou que sofreu abusos sexuais quando pequena. A declaração que chocou o Brasil, foi ao ar em entrevista ao quadro “O que vi da vida” do programa “Fantástico” da Tv Globo:

“Quando eu lembro que tudo isso aconteceu e eu não pude fazer nada porque eu não sabia, eu não tinha experiência. O que uma criança pode fazer? Eu tinha medo de falar pro meu pai e ele achar que era eu que estava fazendo isso.”

Recentemente a atriz Luana Piovani, em entrevista a Xuxa mencionou que também foi abusada, e relatou que também não contou o fato para ninguém.  E disse que a história ficou esquecida por um tempo e, depois de ver a hashtag “Primeiro Assédio” nas redes sociais, acabou lembrando de abusos que sofreu:

“Eu tenho a minha (história de assédio sexual) e eu nunca contei para ninguém porque eu nunca tive coragem. Agora você me pergunta por que eu nunca contei pra ninguém… Não sei, Xuxa! Eu tinha 7 anos e foram várias vezes”.

E agora em 2016, estamos chocados com o caso que parece estar longe de ser solucionado. O do estupro coletivo: Uma adolescente de 16 anos, e 33 homens. É muito triste saber que estamos vivendo em mercê de uma sociedade cheia de tarados e pedófilos doentes, bandidos e psicopatas.

E sem parar por aqui,  segue um relato muito triste de um anônimo:

Embora sem mencionar o nome do agressor eu tenha contado para meus pais separadamente muitos e muitos anos depois do ocorrido e também mencionado em sessões de terapia para entender o que aconteceu, eu nunca consegui contar essa história para outros, ou fazer uma denúncia uma vez que teria que identificar, talvez ser exposto ou julgado. E talvez pensando que abriria essa enorme ferida. Mas ao escrever esse relato, percebo que na verdade ela nunca se fechou.
Ouvimos na mídia muitos relatos de crianças, mulheres e adolescentes que sofreram violência sexual, e infelizmente sabemos que os relatos que chegam a mídia ou a polícia são apenas uma pequena porcentagem dos casos que realmente acontecem. Mas aconteceu também comigo, e sei que se caracterizou como pedofilia. E sei que demorei fazer isso, e que mesmo agora e de forma anônima,quero que meu relato, seja uma forma de mostrar que homens também são violentados.
Ele era casado, tinha um casal de filhos. Devia ter cerca de 40 anos e era amigo dos meus pais, e sei o quanto estes confiavam nele.
Ele chegou me chamando para jogar videogame. Algo que eu nunca tive até poder comprar o meu, já na vida adulta. Animado em poder jogar o famoso Nintendo 2, fomos para sua casa e jogamos por uns minutos, até que ele disse que tinha que sair. Foi quando ele, pegou no meu braço, e me disse o que ia fazer. Daí ele me levou para o lado da sua casa, o que era tipo um cercadinho onde foi feito para prenderem os cachorros.
Uma criança, eu ainda era bem novinho totalmente imaturo e inocente em relação ao sexo. E até hoje não sei explicar muito bem o que senti na hora, mas me lembro em parte que senti muito medo, embora não tenho gritado, dito “não” ou tido outra reação. Ele não foi violento e nem me penetrou, mas tirou minhas roupas e passava seu membro em partes do meu corpo. Logo em seguida ele mandou eu me vestir a bermuda e ir embora. Fui para casa, me sentindo um lixo, sentindo com nojo de mim, e me culpando por não ter feito nada. E o pior, por estar assustado não contei a ninguém o que aconteceu.  . Pensava que a culpa era minha, que Deus não iria me perdoar, que eu tinha pecado. E é claro que não tive coragem de dizer nada para meus pais e nem para ninguém por muitos anos, embora por muitas vezes tenha tentado.
Era 1996 ou 1997, na época eu com 10 a 12 anos de idade, e me lembro como se fosse hoje. Nunca esqueci nada, mesmo tendo passado quase 20 anos. E me cobro, me culpo.  Foi um momento muito traumático. E não me perdoei.                                                               — Anônimo.

É uma sensação bem ruim ler isso, mas creio da importância de denunciar. E os artistas como Xuxa e Luana Piovani que passaram por algo assim, fazem seu papel em incentivar outros que passaram por isso ou que sabem de algo a denunciar e procurar ajuda.

Até para terem uma ideia na semana seguinte, que Xuxa fez a revelação sobre os abusos, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência indicou que, as denúncias de casos semelhantes chegaram a 285,051 mil, o que representou um aumento de 30% em relação à semana anterior. Portanto, não se cale!

denuncie

 Denuncie:

  • Polícia Militar – 190
  • Polícia Rodoviária Federal – 191
  • Disque denúncias:

Para abusos sexuais e físicos contra mulheres, ligue 180. O serviço tem capacidade de envio de denúncias para a Segurança Pública com cópia para o Ministério Público de cada estado. Propiciando-lhe agilidade no atendimento, inovações tecnológicas, sistematização de dados e divulgação.

para denúncias de abuso e exploração sexual contra Crianças e Adolescentes, Disque 100. Que é um canal de comunicação da sociedade com o poder público. O serviço recebe e encaminha denúncias sobre violência sexual e outras formas de violência contra crianças e adolescentes, como tráfico, violência física e psicológica e negligência.

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