Entrevista – Jéssica Carrijo

Depois de muitas Entrevistas já publicadas, hoje daremos continuidade a série com a primeira mulher surda.

E a nossa personagem é a Jéssica Carrijo, ela é forte, resiliente e super inteligente.

Ela natural de Mineiros, uma cidade do interior de Goiás. Região do Centro-Oeste do país.

Jéssica Carrijo – Foto: Arquivo Pessoal

A frente do tempo, e cheia de esperanças apesar de todas as dificuldades devido a perda auditiva, Jéssica se formou em Engenharia Civil e luta nas redes sociais por mais acessibilidade, inclusão e respeito a causa surda. Vamos conhecê-la?

  • Você nasceu surda?

Não, nasci ouvinte. Depois de um ano e seis meses de idade comecei a ter perda auditiva em ambos os ouvidos, após de um ano e oito meses de idade fui diagnosticada como surda profunda bilateral.

  • Como foi o processo de tratamento a surdez?

Fiz sessões de fonoaudiologia a partir dos 6 anos de idade, para poder melhorar a minha fala. Não gostava muito de ir, mas hoje entendo que era necessário, pois consigo oralizar minha família e amigos que não sabem Libras.

  • E a libras, quando começou a utiliza-la?

Eu tinha 5 anos de idade quando comecei aprender e descobrir que a Libras é a minha primeira língua, mas me comunicava apenas dentro da escola e não em casa, pois naquela época faltava esclarecimento sobre este tipo de comunicação.

  • Não deve ter sido fácil, e acho que muitos surdos, assim como eu sofrem por falta de informações. Você passou por algum tipo de preconceito?

Sim, já sofri preconceito por ser surda, por me achar incapaz, por me excluir e entre outras negatividades.

Pessoas preconceituosas nunca irão saber o que é sentir na pele de surdos quando sofrem pela realidade no meio da sociedade. Eu desejo muito que estas tenham mais empatia e sensibilidade aos próximo.

  • Ainda assim, você não desistiu. Como foi sua educação?

Me formei em Engenharia Civil e sou especializada em Tradução e Interpretação de Libras. Durante a graduação tive a ajuda de Intérpretes de Libras. Inclusive uma delas me acompanhou por 3 anos e meio, mas por conta da teve que ser substituída, e sofri, pois tive várias trocas de Intérpretes de Libras e sinto que isso me prejudicou muito.

Mas valeu a pena saber dessas experiências para conscientizar, aliás, aprendi muita coisa e sou a grata a Deus por ter concluída a graduação e por tudo que vive e aprendi.

  • Quais seus planos e sonhos para p futuro?

Quero viajar bastante, conhecer outras culturas no Brasil e no mundo. E também continuo estudando e buscando por mais igualdade e respeito para os surdos. E sei que o mundo vai ser melhor.

  • E o que você quer para o mundo hoje?

O que eu quero é que todas as pessoas tenham mais respeito e mais empatia aos próximo. Se todos pudesse aprender Libras, facilitaria muito a comunicação. Todos nós somos iguais, a diferença é a comunicação, mas há estratégia para que o mundo seja mais inclusivo. Então basta cada um aprender.

Obrigado pela disposição Jéssica, muito feliz por saber um pouco de sua história. Muitas bençãos e vitórias em sua vida, um grande abraço!

Leia também nossas outras entrevistas, por exemplo a arte da atriz Débora Olivieri, e o Plus Size de Lilian Machado.

A pandemia, os surdos e uso de máscaras

Encontrei uma matéria super legal sobre o uso das máscaras e as dificuldades que nós surdos encontramos. Gostei muito, pois é um assunto que já falei no Instagram e ainda sofro. Espero que gostem:

Mariana Gonzalez

De Universa, em São Paulo

Sei que sou surda desde os 10 anos, quando recebi o diagnóstico, mas foi durante a pandemia do coronavírus que entendi o que realmente significa essa perda auditiva — moderada de um lado, severa do outro. Explico: não entendo todos os sons com clareza e sempre dependi da leitura labial para me comunicar. Como nos últimos meses as bocas estão sempre cobertas por máscaras, a comunicação ficou comprometida.

Se até o início deste ano eu pensava que a deficiência fazia apenas com que eu ouvisse um ou dois tons mais baixo, agora percebi que mal consigo distinguir uma palavra da outra só pelo som. Sem poder ler os lábios, fui desenvolvendo outras técnicas para me comunicar. Tive que reaprender a ser surda 13 anos depois do diagnóstico.

Nos primeiros sete meses de pandemia, só saí de casa para ir ao mercado. Acabei decorando a ordem das perguntas no caixa: “Precisa de sacola?”, “CPF na nota?” e “débito ou crédito?”. Já aconteceu de responder “débito” para a pergunta da sacola, mas tudo bem. No Uber, é mais complicado: além de sentar atrás do motorista e não conseguir fazer leitura labial nem pelo retrovisor, já que ele está de máscara, entram em cena todos os barulhos do trânsito de São Paulo. Tem que pedir para repetir, repetir de novo, até entender. Em um café ou restaurante, a mesma coisa, principalmente quando outras pessoas estão conversando no local.

Esse é um problema que eu compartilho com 466 milhões de pessoas que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), têm perda auditiva.

Paula Pfeifer, autora do livro “Crônicas da Surdez” e criadora do projeto Surdos Que Ouvem, me contou que são incontáveis os relatos de perrengues que ela ouviu desde março de outras pessoas surdas como nós — alguns bem mais sérios do que não conseguir pedir um café. “E profissionais de saúde que se viram sem entender os pacientes, professores sem entender seus alunos, e por aí vai”, diz. “Além disso, tem um desconforto físico: quem usa aparelho e óculos, agora precisa que a orelha sustente a máscara. É muito, muito ruim”, diz Paula Pfeifer, autora do livro “Crônicas da Surdez” De fato: o elástico da máscara engancha com frequência no aparelho auditivo e chega a incomodar a orelha.

Alternativas são mais caras


Imagem: Pryscilla K./UOL

Há dois meses, publicamos aqui em Universa uma entrevista com a diretora Benedita Casé Zerbini, que também é surda. Ela me falou sobre o misto de vergonha e preguiça de pedir para alguém repetir o que disse — o que eu também sinto, especialmente a parte da preguiça. Mas falou, também, sobre a importância de explicar para as pessoas próximas como elas podem facilitar essa comunicação; no meu caso, falar da forma mais clara possível e sempre de frente para mim, além de repetir se for necessário. Uma alternativa à qual Benedita e outras pessoas surdas estão recorrendo durante a pandemia é a máscara transparente — parecida com a comum, mas feita com material que permite que a pessoa surda faça a leitura labial.

Essa, aliás, é a recomendação das autoridades. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo reconheceu que “a expressão facial é parte da comunicação” e confirmou que as máscaras com visor podem ser usadas em todas as situações em que o uso de máscaras é indicado. O Ministério da Saúde, por sua vez, confirmou que a “máscara inclusiva” é uma alternativa para os surdos durante a pandemia.

Em uma busca rápida na internet, no entanto, é notável que a versão transparente tem preço mais alto: enquanto o preço da versão comum, de tecido, gira em torno de R$ 10, a máscara transparente mais barata que encontrei custava R$ 30. As poucas opções disponíveis por menos que isso são importadas de fora do Brasil e demoram alguns meses para chegar. Uma solução foi proposta pela Secretaria Municipal de Saúde, por e-mail: “A máscara pode ser confeccionada pelo próprio usuário, podendo ser de pano ou de outro material, conforme as orientações da Anvisa”.

Eu ainda não testei, mas Paula Pfeifer me contou que essas máscaras transparentes nem sempre funcionam: “Recebi inúmeras de presente durante a pandemia mas não me adaptei a nenhuma. Elas embaçam, esquentam, e eu não consigo respirar direito com aquele plástico. Mas são a única solução até agora”. Se antes do vírus e das máscaras, quem tem perda auditiva tinha que se adaptar evitando um bar com luz baixa e música alta, por exemplo, agora os desafios são maiores. E, entre a vontade de socializar (com segurança, claro) e o trabalho de pedir para o interlocutor repetir ou falar mais alto, muitas vezes opto por não interagir, e acredito que outros surdos façam o mesmo, pelo menos enquanto.

Matéria repostada na íntegra do Universa UOL.

Inclusão dos Surdos na OLX

Com o objetivo de melhorar a experiência dos funcionários com deficiência auditiva na empresa, a OLX Brasil criou o projeto Mãos que Falam. Desde a sua implementação, em 2018, a iniciativa impulsionou o bem-estar e promoveu a inclusão dos profissionais surdos na empresa, engajando também os demais colaboradores sobre a importância do tema.

“Com a pandemia, percebemos que o projeto se tornou ainda mais relevante, a fim de oferecer a todos os colaboradores, a oportunidade de participar de nossos eventos internos e atividades coletivas feitas remotamente”, diz Sergio Povoa, diretor de recursos humanos da OLX Brasil.

Libras

Crédito: KatarzynaBialasiewicz/iStock

No Mãos que Falam, são oferecidos cursos de Libras (Língua Brasileira de Sinais) periódicos, do nível básico ao intermediário, para qualquer funcionário interessado. As turmas reúnem pessoas de diversas áreas da empresa dispostas a aprender a língua de sinais, não apenas as que trabalham diretamente com surdos.

Além dos treinamentos acessíveis, os surdos sinalizantes da OLX têm um plugin de tradução chamado Hand Talk para que consigam realizar seus trabalhos facilmente.

“O nosso processo seletivo não parou durante a pandemia, mas tivemos que fazer algumas adaptações para que se tornasse uma jornada 100% remota. Os profissionais surdos têm o suporte de instrutores fluentes em Libras durante as entrevistas justamente para garantir oportunidades para todos”, explica o executivo.

Segundo uma pesquisa interna da empresa, o desempenho dos funcionários com deficiência auditiva aumentou 90% desde a criação do projeto em 2018. Para os responsáveis do Mãos que Falam, são os relatos positivos que os motivam a continuar a ampliação e aprimoramento da iniciativa.

As máscaras faciais e a inclusão dos surdos

O uso obrigatório das máscaras faciais proporciona proteção em tempos de pandemia do novo coronavírus – COVID19.

Mas, ao mesmo tempo, é um desafio para a comunicação de pessoas surdas, já que o item cobre a boca e impede a leitura labial.

Uso da proteção dificulta leitura labial e das expressões, dizem pessoas com deficiência auditiva.

Embora a grande maioria tem se esforçado para usa-la e obedecer o decreto para minimizar a contaminação do COVID-19, está sendo bem difícil entender o que é dito nos serviços necessários para minha vida. Eu mesmo já tive várias situações em que eu não conseguia entender a pessoa: minha diarista, uma recepcionista do psiquiatra, e até uma fonoaudióloga.

Mas já algum tempo bem antes da pandemia, alguém inventou a máscara com material transparente, de modo que um surdo seja capaz de fazer a leitura labial, caso este ache assim importante.

E encontrei várias pessoas de bom coração e que se preocupam com a dificuldade dos surdos em entender o que é dito devido as máscaras, e adotaram a ideia das mascaras com “visor” transparente. Olha só a equipe Emily e Igor:

E a parte mas legal é que a cada duas máscaras vendidas, eles doarão uma, para que não tem condições de comprar. Legal né? Clique aqui para ver o vídeo do Igor falando do projeto. E aqui para assistir o da Emily que também está no instagram “Mãos que rompem o silêncio”, e tem ajudado outros a aprenderem libras.

O atendimento aos Surdos – Chat na Azul

Depois de mais de 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei Brasileira de Inclusão (LBI – Lei 13.146/15) foi sancionada em julho de 2015 e começou a vigorar nesse mês.  A LBI é uma grande vitória para mais de 45 milhões de brasileiros que possuem algum tipo de deficiência e enfrentam muitas dificuldades de acessibilidade e inclusão. A lei promove mudanças significativas em diversas áreas como educação, saúde, mobilidade, trabalho, moradia e cultura.

Uma das conquistas importantes é do acesso a informação, agora os sites precisam estar acessíveis:

“Art. 63. É obrigatória a acessibilidade nos sítios da internet mantidos por empresas com sede ou representação comercial no País ou por órgãos de governo, para uso da pessoa com deficiência, garantindo-lhe acesso às informações disponíveis, conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente.”

Esse é um avanço para que todos possam usar a internet da mesma forma: cegos, surdos, tetraplégicos, pessoas com paralisia cerebral, entre outras deficiências poderão utilizar tudo que a internet tem para oferecer.

Nesta última semana precisei resolver uns problemas relacionados a compra das minhas passagens áreas para as próximas férias, e consegui resolvê-los, graças ao atendimento via chat da Azul. Parabéns!

Veja também:

Direito dos Surdos – acesso a Educação igualitária

Não só os surdos, mas todas as pessoas com deficiências, tem direito a igualdade, e a não discriminação. Pensando nisso, a comissão dos Direitos das pessoas com Deficiência da OAB-GO preparou uma cartilha com todos os direitos que uma pessoa nesta condição devem exigir.

E hoje vamos falar, dos direitos a uma educação igualitária para uma criança com algum tipo de deficiência:

Direito à matrícula: As escolas devem recepcionar as crianças ou adolescentes, independentemente de qualquer situação ou condição. Caso não haja vaga disponível, após a instauração de procedimento adequado, o município arcará com a despesa de manter o aluno na rede particular de ensino.

Direito ao “Professor de Apoio”: É importante frisar que nem todos os alunos de inclusão necessitam desse profissional dada a sua autonomia, mas caso seja comprovada tal necessidade, como o caso dos surdos, que necessitam de um intérprete de Libras, a escola o providenciará sem custo adicional.

Imagem: Reprodução da Internet

Direito ao Currículo Adaptado: A escola deverá adaptar o conteúdo aplicado de acordo com a necessidade da deficiência, por exemplo, adequando trabalhos, atividades e provas de forma acessível, disponibilizando recurso de acessibilidade e de tecnologia assistiva adequados, concedendo dilação de tempo para realização de provas, dentre outras possibilidades, em busca do melhor aproveitamento do aluno.

FIES – Financiamento Estudantil: Adquirindo deficiência incapacitante (invalidez), é direito da pessoa com deficiência ter o saldo devedor do FIES absorvido (quitado) pelo seguro obrigatório presente no financiamento, mesmo em contratos anteriores à Lei nº 11.552, de 19 de novembro de 2007.

Leia o primeiro post da série:

Surdos – Você conhece seus Direitos?

Promover a cidadania e contribuir para a participação plena e efetiva dessas pessoas com deficiência na sociedade, em igualdade de condições com as demais, é obrigação do poder público.

A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), aprovada em 2015, veio afastar barreiras e qualquer forma de discriminação. A deficiência agora, não afeta a plena capacidade civil da pessoa e não pode obstruir a acessibilidade e a trafegabilidade social.

E a OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, com o objetivo de garantir que a sociedade acolha todas as diferenças, elaboraram uma cartilha chamada: Pessoa com Deficiência, Você conhece seus Direitos?

E é muito boa, e engloba todos os tipos de deficiência. E gostei tanto que me senti inspirado a fazer artigos aqui e adaptar para os surdos. Já temos o comando de lei. Agora, precisamos fazer com que estes direitos seja efetivados e implementados na vida de todos. E faremos isso, juntamente com os artigos que serão publicados. Mas antes de mais nada, que tal revisar alguns posts que já fizemos sobre o assunto?

No mais até breve, aguardo vocês para discutirmos mais a respeito não só de nossos direitos, mas também deveres.

Libras na Ciência abre inscrições para curso pré-vestibular em LIBRAS

Com apoio da Habits-USP Leste e o Programa Escola da Família, da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, projeto oferece 40 vagas para aulas ministradas em Língua de Sinais.

Prestes a começar o segundo semestre de 2019, estudantes surdos que pretendem prestar o ENEM 2019, a Fuvest 2020 e a longa maratona de provas de vestibular, terão a oportunidade de realizar a inscrição para o curso preparatório promovido pelo Projeto Libras na Ciência.

Em mais uma edição, a iniciativa comandada pelo mestre professor Rafael Dias Silva, que dedica sua atuação para a educação inclusiva de deficientes auditivos e adaptação dos conteúdos do currículo básicos da língua portuguesa para Libras, conta com apoio do Programa Escola da Família, integrado à Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Assim como nas cinco edições anteriores, o Habits-USP LESTE também atua como apoiador do projeto.

Com um total de 40 vagas, o processo de inscrição e seleção teve início nessa semana e apresenta encerramento marcado para 22 de julhoAs fichas devem ser enviadas exclusivamente pelos Correios e serão considerados alunos e ex-alunos de inclusão do sistema básico de Educação Pública e de escolas particulares.

Para participar, o interessado deve solicitar a ficha de inscrição através do e-mail: rafael.dias.silva@usp.br e enviar para o endereço: Rua Serra de Botucatu, 968 – Tatuapé – São Paulo (SP).

A divulgação dos candidatos selecionados por meio da página Libras na Ciência no Instagram e no Facebook (@librasnaciencia) no dia 26 de julho. Gratuito, a sexta edição do curso pré-vestibular é ministrado por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras) na Zona Leste de São Paulo:

ESCOLA ESTADUAL PROFª BENEDITA RIBAS 
Endereço: Rua José Tavares Siqueira, 198 – Tatuapé (próximo à estação Carrão do Metrô)
Com início marcado para 03 de agosto, as aulas serão ministradas aos sábados, das 9h às 16h.

SERVIÇO: Curso pré-vestibular 100% em LIBRAS para estudantes surdos – Libras na Ciência
PERÍODO DE INSCRIÇÃO: 03/06 a 22/06
INÍCIO DAS AULAS: 03 de agosto
INSCRIÇÃO: pelos Correios, por meio de carta registrada, ou Sedex para: Prof Me RAFAEL DIAS SILVA (LIBRAS)
Endereço: Rua Serra de Botucatu, 968 – Tatuapé
CEP: 03317-000 – São Paulo (SP)

Via: https://www.abcdoabc.com.br/abc/noticia/libras-ciencia-abre-inscricoes-curso-pre-vestibular-libras-82720

Agradecimentos ao meu amigo Sebastião Galindo, de Presidente Prudente/SP

Toy Story 4 e toda a sua representatividade para os surdos

Quem já assistiu a Toy Story famosa animação Disney-Pixar, e que acaba estrear o quarto filme, deve amar Andy e de seus velhos – e novos! – brinquedos: o xerife-cóuboi Woody, o boneco espacial Buzz Lightyear, o dinossauro em miniatura Rex, o Sr. e a Sra. Cabeça de Batata, Slinky (o cachorro-mola), a boneca vaqueira Jessie, entre outros. Um clássico para muitos das décadas de 1990 a 2000.

E a novidade do 4, que mal acabou de estrear é uma pequena criança usando um aparelho de implante coclear.

Muitas músicas do filme, conhecidas por crianças de diferentes países do mundo, foram interpretadas em línguas de sinais e gestuais e partilhadas na Internet.

Vejam que legais algumas delas (clique nos links para acessá-las):

Amigo estou aqui“, interpretada em Libras. (Brasil)
You’ve got a friend in me“, interpretada em ASL. (Estados Unidos)
When she loved me“, interpretada em LGP. (Portugal)

E aí gostaram? Eu só sei que eu amei, e muito!

Os surdos destinados ao “Inferno da fala”

A confusão atordoa os olhos, braços giram qual moinhos de vento num furacão […] A regra era que todas as comunicações fossem orais. Nosso jargão de sinais, obviamente, era proibido. […] Mas aquela regra não podia ser imposta sem a presença dos funcionários da escola. O que estou descrevendo não é o modo como falávamos, e sim como conversávamos entre nós quando nenhuma pessoa ouvinte estava presente. Nesses momentos, nosso comportamento e nossa conversa eram muito diferentes. Relaxávamos as inibições, não usávamos máscara.”

Surdo aos oito anos, o menino David Wright escreveu sua rotina na Northampton School, uma escola especial da Inglaterra. “Uma das implacavelmente dedicadas, mas equivocadas, escolas ‘orais’, que se preocupam sobretudo em fazer os surdos falar como as outras crianças e que causaram muitos danos a indivíduos com surdez pré-linguística desde o princípio”, nas palavras do neurologista Oliver Sacks.

No livro “Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos”, Sacks conta como a proibição quase doentiamente feroz, “soberba”, à língua de sinais desenvolvida pelas próprias crianças surdas na escola retardava seu desenvolvimento. O objetivo das escolas era nobre: desenvolver aquelas crianças. O problema foi a imposição da ferramenta, com uma total cegueira para suas próprias capacidades: vocês precisam falar a nossa língua.

Foi de um abade, Charles-Michel de l’Epée, que veio uma transformação significativa: ele percebeu como os surdos pobres que vagavam por Paris se viravam bem usando uma língua de sinais nativa. E foi criando um sistema de sinais – uma combinação da língua de sinais nativa com a gramática francesa traduzida em sinais – e sua escola, fundada em 1755, permitiram pela primeira vez que alunos surdos lessem e escrevessem em francês e, assim, pudessem aprender.

Enquanto ensinar o surdo a falar exigia um professor dedicado a um único aluno, por muitos e muitos anos, e criava, na melhor das hipóteses, um analfabeto funcional, o abade conseguia educar alunos às centenas com seu método em pouco tempo.

A realidade foi mudando e a então linguagem de sinais podia ser aprendida rapidamente e restando tempo para a educação tradicional, permitindo que eles chegassem a um nível de instrução equiparável ao dos ouvintes. L’Epée tinha um objetivo prático: ele não tolerava a ideia de os surdos morrerem sem conseguir se confessar. E sua vitória veio do fato de, com base nesse propósito, encarar os surdos e a sua linguagem não com desprezo, mas com reverência.

A história, o progresso e a tecnologia chegaram. Existem até leis que nos ensinam e favorecem a inclusão dos surdos, e que hojepodemos aprendermos que os surdos podemos de fato devem sair do “inferno” solitário do mundo opressivo de ter que ouvir e falar.

Ainda assim, mas ainda há profissionais que insistem que os surdos devem falar e não serem felizes. Ainda há empresas que não seguem as leis e não garantem interpretes ou no mínimo dignidade para seus funcionários e clientes. Até quando nesse inferno?